Os contactos com o Gabinete para os Meios de Comunicação Social, que gere o espaço tinham sido constraditórios e inconclusivos.
As Jornadas Europeias do Património, no passado mês de Setemebro, ofereceram-me uma oportunidade, por onde me infiltrei.
E, a exemplo do que já fiz uma vez, aqui ao lado, vou deixar falar quem sabe escrever. Alexandra Passos Coelho, num artigo na revista do Público, há alguns meses atrás
"Estou sozinha na Abadia, na
cave do
Palácio Foz, em Lisboa.
Há uma ou outra luz num canto, mas
de resto o
espaço está mergulhado numa
meia penumbra, e o som
dos meus passos ecoa no
chão de pedra. Há um poço que, dizem, conduz aos subterrâneos de Lisboa,
há pombas brancas nas paredes, e, vendo
melhor, também gaivotas, e elefantes com as trombas enlaçadas, e videiras que sobem junto ao tecto. Há uma estátua de um
homem dobrado sustentando uma coluna, e outra de um dragão com corpo de mulher.
"Clavstrvm", lê-se por cima de uma arcada. A profusão de elementos decorativos é tal e tão variada que demoramos algum
tempo a habituar os olhos à luminosidade e a
conseguir perceber tudo o que nos rodeia. No início do século XX, a Abadia era
um restaurante que
servia para reuniões secretas da
Maçonaria, e também da sociedade dos Makavenkos, o grupo criado por
Francisco de Almeida Grandella com o objectivo fundamental de se dedicar a jantaradas e à boa vida - ou, como
eles diziam (e como se pode
ler em Memórias e Receitas Culinárias dos
Makavenkos, da Colares Editora), "dar largas à alegria e elasticidade à tripa".
Foi na Lisboa do século XVIII que os marqueses de Castelo Melhor encomendaram ao arquitecto italiano Francisco Xavier Fabri
o projecto do Palácio que ainda hoje existe
nos Restauradores. Quando, depois de interrupções várias,
as obras terminaram finalmente em 1858, o palácio era sumptuoso e tinha (no local onde está hoje a Cinemateca Júnior) a primeira capela privada
da cidade.
Mas tornou-se ainda mais faustoso pela mão do Marquês da Foz, que o comprou em 1889
e o decorou com
o que de mais luxuoso existia naquele tempo. No início do século XX, o fim
da monarquia aproximava-se e o
recheio do palácio foi
leiloado, tendo, em 1902, sido alugado a Manuel
José da Silva, dono do Anuário Comercial. Este subalugou parte do edifício ao Circo
Price, que ali criou um teatro. Em 1910,
o Palácio Foz passou para
as mãos do Conde de
Sucena, que alugou o espaço para vários tipos de comércio - ali funcionou a certa altura a delegação dos EUA, o Club
Maxim's, o Central Cinema, e a elegante Pastelaria Foz,
com
cinco portas para a rua e em cuja cave
se escondia o restaurante Abadia.
Aqui em baixo
é um pequeno labirinto. Do Clavstrvm passamos para o Refectorium - um espaço
inspirado nos mosteiros da Ordem de Cister - onde, do seu lugar junto ao tecto, nos olham 24 bustos em miniatura de homens e mulheres, alguns com as insígnias maçónicas brilhando no peito. O guia Lisboa insólita e secreta, de Vítor Manuel
Adrião, explica que a
estátua do homem
dobrado sustentando uma coluna,
mesmo ao lado
do poço, representa o Grande
Arquitecto do Templo da Virtude e da Sabedoria, possuidor dos segredos da Arte
Real (a Geometria e a
Matemática).
Já me esqueci que lá fora fica a Avenida da Liberdade e que, subindo a escadinha atrás de mim vou dar à sala onde estão as funcionárias do
Gabinete para os Meios de Comunicação Social,
que hoje funciona no Palácio Foz (e que pode ser contactado para visitas guiadas à Abadia).
Na cave é outro mundo. E se ficarmos um bocado não é difícil começar a ouvir, lá ao longe, os vozeirões animados dos maçons ou dos makavenkos, fumando charutos, dizendo graças, e descendo para mais um grandioso jantar - ou, quem sabe, para uma decisiva reunião secreta - entre as paredes misteriosas da
Abadia, observados apenas pelas gárgulas, os
elefantes e o Grande Arquitecto."
O mancha negra
Não ia ao Palácio Foz desde os meus tempos de juventude, quando lá ia visitar a Techica. Tudo aquilo de que me lembrava eram a enorme escadaria e a estátua de Salazar, togado de doutor, no meio do pátio principal.
Depois do 25.4, a estátua foi retirada, mas foi posto um quadrado negro, no seu lugar
Outras fontes sobre o Palácio Foz:
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