quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Hospital de Sant'Anna - 25 Fevereiro 2014

No "Comboio nocturno para Lisboa", a cena em que o professor Gregorius visita o tio João desenrola-se num ambiente em que se vê um friso de belíssimos azulejos arte nova.

Levei vários meses até conseguir identificar que os azulejos se localizavam no Hospital de Sant'Anna. Assim que tive conhecimento de que a Santa Casa Misericórdia de Lisboa, proprietária do Hospital, promovia visitas guiadas (terceira quinta-feira de cada mês), precipitei-me!

O Hospital foi fundado como sanatório para meninas pobres que tivessem contraído tuberculose, por uma senhora chamada chamada Claudina Chamiço, viúva de Francisco Chamiço, homem endinheirado que possuía roças em S. Tomé, fundou o BNU, esteve na base da fundação do Totta e chegou a adquirir o actualmente tão famoso Palácio Ratton. Gente de posses, portanto!

A história é complicada, havia várias mortes por tuberculose na família, o projecto não arrancou à primeira e quem teve que agarrá-lo foi a enérgica septuagenária.

Entrada do Hospital e pormenores da fachada:




A capela é um deslumbramento para os apreciadores de arte nova e para os entendidos em simbologia (sendo que eu só pertenço ao primeiro grupo!).
Não por acaso, o arquitecto foi Rosendo Carvalheira, maçon, igualmente autor do projecto da "Abadia" do Palácio Foz.


Pormenor da cúpula da ábside e do óculo que se lhe sobrepõe:




Tecto e pormenores dos cachorros:




Paredes da nave:



Capitéis da nave:




Logotipo da instituição, que ainda hoje se mantém:




Pátio interior. Os pequenos torreões (vista interior na foto de baixo) e os vários "andares" do telhado tinham fins de ventilação. Com efeito, Rosendo Carvalheira pensou o edifício ao pormenor, em termos da sua funcionalidade.


Tão encantada andava, que me esqueci de perguntar pelo corredor que aparece no filme! Mas fui largamente compensada por este espaço, chamado Jardim de inverno, onde as crianças brincavam quando o tempo não lhes permitia irem para o solário, exterior:











Pormenor de requinte: os azulejos representam plantas que têm aplicações medicinais. Já na fachada marítima, os azulejos exibem fauna e flora marítimos:









Vagonette de transporte de roupa para a lavandaria, edifício que, por razões óbvias, ficava afastado das instalações principais. Parece que o edifício também merece visita. Mas o estado de degradação em que se encontra não oferece segurança.

Webgrafia: | Hospital de Sant'Anna | Francisco Chamiço | Palácio Ratton | Rosendo Carvalheira | Alguma bibliografia (embora apresentada de forma não muito amigável)

" Quem se aproxima de Cabeço de Montachique vindo de Loures pela desgastada EN374 não consegue deixar de reparar, a curta distância, nas ruínas que se erguem na encosta do cabeço. Os locais adoptaram-no como castelo, há quem lhe chame palácio, mas a estrutura imponente tem mais semelhanças com uma fortaleza. Ergue-se ali há quase uma centena de anos e encerra em si um bom punhado de histórias e de lendas. Corria o ano de 1918 e Francisco de Almeida Grandella, em nome da "Sociedade dos Makavenkos" doava um terreno de 3500 metros quadrados para a construção de um edifício destinado ao tratamento e internato temporário de doentes de tuberculose. Juntou-se o gesto solidário do arquitecto Rosendo Carvalheira, que criou um grandioso projecto para o edifício. "O conjunto do projecto é muito simples, gracioso e pitoresco e fortemente inspirado em motivos portugueses", escrevia a "Arquitectura Portuguesa" em Julho de 1918.
Rosendo Carvalheira acabaria por não sobreviver para assistir ao lançamento da primeira pedra deste grandioso feito. A esta festa, compareceu a aristocracia da época, o que não impediu que desde logo existissem algumas limitações no que toca ao financiamento da obra. Até há alguns anos, dizia-se que junto às fundações do edifício se tinha enterrado uma caixa onde o povo anónimo colocaria os seus singelos donativos. Um cofre bem seguro, à prova de roubo. Um tesouro.
O projecto era vendido a 5 centavos. Rezava que o Sanatório Albergaria pretendia "minorar quanto possível a miséria e a doença no meio da crise tremenda por que está passando o mundo inteiro" e apelava "aos novos ricos, que têm feito fortunas fabulosas com os lucros da guerra" para que doassem "uma pequena parcela dessa enorme riqueza" às vítimas dessa mesma guerra. Porém, o apelo não teve resposta e depressa se parou com a construção, tendo a ideia morrido ali. Todas as expectativas geradas em torno do projecto acabaram por sair goradas.
O Sanatório Albergaria continua de pé, tal como foi deixado há quase cem anos.
E o cofre escondido? Continuará por lá?"