quinta-feira, 12 de junho de 2014

Muralha de D. Dinis - 6 Junho 2014

O objectivo primeiro da visita era a muralha de D. Dinis, mas logo quando dos contactos estabelecidos, nos foi proposta também uma exposição de arte contemporânea, o que aceitámos. E acabámos (começámos!) a visitar a igreja de S. Julião, enquadramento de tudo isto.

A actual igreja é, na verdade, a terceira desta invocação. A inicial, cuja localização era um pouco distante desta, ruiu, com o terramoto de 1755.
A segunda, já no Largo de S. Julião, teve uma duração efémera, pois, acabada de construir em 1810, ardeu seis anos depois.
As obras de reconstrução duraram até 1854.
Nos anos 30 do século passado, a igreja foi dessacralizada e comprada pelo Banco de Portugal. O espaço foi, além disso, alvo de um permuta com o terreno onde seria construída a futura Igreja de Fátima.
Dada a utilização que até há pouco lhe foi atribuída pelo Banco de Portugal - garagem (além de caixa-forte) - dizia-se que a nova invocação da igreja era a de Nossa Sra. das(os) Mercedes...

Recentemente, o Banco de Portugal decidiu instalar aqui o Museu do Dinheiro e foi durante os trabalhos de preparação que foi descoberto o troço da muralha de D. Dinis.

Não é que o estilo pombalino seja da minha predilecção, mas a igreja é efectivamente imponente





O (pouco) que resta das pinturas do tecto












Origamis, hologramas, imagens em movimento... - deve ser bom trabalhar num sítio com recursos... :-P




Um prémio a quem reconhecer esta imagem (sem direito a aide-mémoire!). Assim, às primeiras, tal como eu.



E chegamos à muralha:





Provavelmente porque, na altura, já estava soterrada, a muralha sobreviveu a 1755. Mas teve, mesmo assim, direito a umas rachazinhas

O poço já é do tempo de Pombal

Estacas pombalinas, encontradas durante as escavações da muralha

Azulejo, da mesma proveniência


Das 11 000 peças recuperadas durante as excavações, apenas um reduzido número está exposto, mas por detrás de cada um deles, corre um filme com  respectiva reconstituição. (Já disse que deve ser bom trabalhar num sítio com recursos?!)

Perspectivas sobre a baixa lisboeta, a partir da igreja de S. Julião:



Para visitar a Muralha de D. Dinis, contactar o Museu do Banco de Portugal.

Palácio da Independência - 6 Junho 2014

Anos atrás, dirigindo-me a um jantar que teve lugar no Palácio da Independência, passei por este pátio, que me encantou. E decidi que havia de visitá-lo a preceito. Foi agora.

Inicialmente, o Palácio chamava-se (dos Condes) de Almada, família muito antiga, descendente de cruzados ingleses que ajudaram à conquista de Lisboa. Em recompensa do que D. Afonso Henriques lhes doou uns terrenos em Almada, sendo essa a origem do título. 

As primeiras notícias remontam a 1467, data de um documento que refere que D. Fernando de Almada, capitão-mor de Portugal, compra "umas casas" neste local.

É o filho, D. Antão, que ordena a construção do palácio inicial, onde se incluíam as chaminés. Situava-se entre o Palácio dos Estaus e o Real Hospital de Todos os Santos, junto à Porta de Santo Antão, um dos arcos da muralha fernandina.

No século XVII, por oferecimento de D. Antão Vaz de Almada, aqui se reuniam os conjurados, que entravam discretamente pela porta traseira do palácio. Entre eles, D. João Pinto Ribeiro, procurador da casa de Bragança em Lisboa. (A defenestração de Miguel de Vasconcelos não teve lugar aqui, mas sim no Paço Real, na actual Pr. Comércio).

A actual fachada data do século XVIII, levantada durante a campanha de obras levada a cabo por ordem de D. Lourenço de Almada.

1755 provocou poucos danos no palácio, tendo até as cavalariças sido utilizadas para receber doentes resgatados do Real Hospital de Todos os Santos, que ruiu completamente.

Por esta altura, a família vai para os Açores, para se ocupar da respectiva Capitania.
Volta em 1774, com muito dinheiro, mas encontra  palácio muito degradado. Promove então obras de restauro. É nesta altura altura que é desenhado o jardim de buxo e as casas de fresco

Em 1833, sendo a família miguelista, sai definitivamente do palácio, por confisco deste.

Com o liberalismo, instala-se no palácio a "Comissão da Reforma Geral dos Estudos deste Reino", de que era secretário executivo Almeida Garrett.

Em 1835 o palácio é devolvido à família, que não volta, contudo, a habitá-lo, preferindo alugá-lo: o Liceu Francês, o Quartel-General da 1ª Divisão, e diversos estabelecimentos comerciais, figuram entre os locatários.

Em 1861, a Comissão Central 1º de Dezembro de 1640, fundada (por, entre outros A. Herculano) para combater as teses iberistas, é autorizada a instalar-se numa sala do Palácio.

É esta entidade (que, a partir de 1927, adopta o nome de Sociedade Histórica da Independência de Portugal) que organiza uma emissão de selos e rifas, bem como uma recolha de fundos junto dos emigrantes, para custear as obras de restauro do palácio,  efectuadas em 1939 por Raul Lino.
Inaugurado o novo edifício em 1940, é nesta altura que o seu nome se altera para Palácio da Independência.
Deveria ter sido ocupado pela SHIP, Museu da Restauração e Mocidade Portuguesa. Mas esta última vem a ocupar demasiado espaço e o Museu transita para Vila Viçosa.

Ocupado no 25 de Abril, o palácio serviu de sede à ADFA até 1993, data em que a SHIP passou a ser o único inquilino.

Pátio principal:



Conjurado (?) não identificado


Âncora romana - reconstituição baseada nos cepos descobertos em Sesimbra, no mar do Ancão, a 25 metros, pelas brigadas de mergulho, em Junho e Agosto de 1968

O grupo dos conjurados, digo, visitantes, com a nossa enérgica e erudita guia. Infelizmente havia pouca luz e a foto tremeu-se

Biblioteca:


Que ignorância a minha: eu, que sempre me perguntei que mente perversa teria Shakespeare, para ter inventado aquela angustiante sequência de equívocos mortais, no "Romeu e Julieta", venho a saber, nesta altura do campeonato (shame on me!), que o homem se inspirou nos amores de Píramo e Tirbe, presentes nas "Metamorfoses" de Ovídio, e aqui retratados

Tecto da Biblioteca

Pátio interior - painéis de azulejos de Gabriel del Barco, separados durante as obras conduzidas por Raul Lino. Serão brevemente repostos na sua localização e conjunto originais:




Jardim:



Reconstituição das reuniões conspiratórias. O ancião era D. Miguel de Almeida, que, apesar dos seus 83 anos, participou no complot

Janelas de reixa (ou mushrabiyas)  
Trata-se de um elemento de inequívoca influência árabe, e como tal, mais presente no sul da Península Ibérica (Andaluzia, Algarve e Alentejo).
Estas janelas são referidas pelo historiador Oliveira Marques na sua emblemática obra “A Sociedade Medieval Portuguesa”:
“Usavam-se muito as chamadas  “mushrabiyas”, espécies de varanda ou marquises de fechadas por um gradeamento de madeira. A “mushrabiya” permitia a livre curiosidade feminina, exactamente como a persiana de hoje; contribuindo também para refrescar os aposentos em regiões bem mais sujeitas aos calores estivais do que aos frios do inverno.” (Esclarecimento da nossa guia)

Casa de fresco

Cisterna

Trilogia de azulejos datando da construção do jardim:
a conjura, ...


...a proclamação da independência...


... e a aclamação de D. João IV

Tudo vestidinho à século XVIII, época de realização dos azulejos


Ao fundo do jardim, a muralha fernandina (do outro lado é já a "Casa do Alentejo"!), que proporciona excelentes vistas:




Entrada para o Kantina - Inatel Chaminés do Palácio, iniciativa conjunta da Inatel e da SHIP, onde almoçámos


Uma das chaminés, vista de baixo:


Se gostámos?! A sopa de cação e o manjar de grão falam por si!





Para visitar o Palácio da Independência, contactar: ship.actividadesculturais@ship.pt